quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Review: Fionna e Cake – A importância de aceitar mudanças

A nova mini série spin off de Hora de Aventura veio para mostrar que a animação ainda tem muito potencial para ser explorado.


   Após o fim de Distant Lands lançado pelo HBO Max, tivemos a notícia de que Hora de Aventura teria uma mini série de 10 episódios sobre Fionna e Cake. Sem as restrições do Cartoon Network, o canal de streaming desenvolveu a série para o público jovem-adulto. Mais violento visualmente e no roteiro, o spin off trouxe a história de Fionna e Cake enquanto viajam pelo multiverso junto com Simon Petrikov, em busca da salvação do seu universo.

   Temos músicas inéditas, inclusive compostas por Rebecca Sugar. A animação está bem bonita, apesar de relativamente inconsistente em alguns momentos. Uma coisa para se elogiar é as diferentes técnicas utilizadas em alguns episódios, que trazem mais alma para a narrativa.

Momento em que a animação se parece com uma pintura. Temos também no episódio final uma animação mais parecida com um jogo em determinada cena.


   Os dois primeiros episódios são paralelos um do outro. De um lado, vemos Fionna Campbell, em sua vida comum, fazendo coisas normais. O que inicialmente parecia ser apenas uma cópia de Bee and Puppycat, se provou ser uma mera ponta de um grande icerberg. Fionna mora sozinha com sua gata Cake em um apartamento alugado. Ela já perdeu muitos empregos e se sente deslocada de onde vive. Ela queria que o mundo fosse mais mágico e sente que é especial de alguma forma. Enquanto isso, do outro lado, temos o oposto. Desde o sacrifício de Betty, Simon voltou a ser um humano normal em meio a um mundo completamente mágico. Todos estão seguindo suas vidas enquanto ele continua preso ao passado. Quando um ritual dá errado, ele acaba trazendo a dupla para Ooo em um portal na sua cabeça.

Fionna em sua vida comum trabalhando como guia em um ônibus. A série se passa 12 anos após o fim de Hora de Aventura, o que quer dizer que ela deve estar com seus quase 30 anos.



Simon admite para Finn que sentia saudades de ser o Rei Gelado porque a insanidade o protegia da dolorosa verdade.



                                                 A partir daqui, os spoilers se tornarão maiores


   Descobrimos então que o Prismo quem criou o universo de Fionna e Cake e que havia colocado na cabeça do antigo Rei Gelado (como se fosse um backup).  Também nos é revelado que o universo de Fionna e Cake ficou “normal” por conta de o Simon não ser mais mágico e o antigo mago viu nisso uma oportunidade para fugir novamente de si mesmo, propondo encontrar uma nova coroa em um dos milhares universos alternativos. Ele sendo mágico novamente, a magia voltaria para o mundo delas.

   No decorrer da série, passamos por várias realidades alternativas e a maioria delas (ou todas) não foram muito boas. O destino de Simon se provou ser de extrema importância para o destino de todos. No mundo de FarmWorld, o sacrifício de Simon impediu a bomba de devastar o mundo. No mundo dos Vampiros, o mundo só ficou daquele jeito porque ele morreu antes de achar e cuidar da Marceline, o que a fez ser encontrada pelo Rei Dos Vampiros, que a criou como uma princesa mimada e sádica. Isso nos mostrou que a influencia de Simon ajudou a moldar o caráter de Marceline. Ela não teria aprendido sobre empatia e não teria encontrado e ajudado os humanos se não tivesse conhecido ele.



Simon em uma realidade onde ele foi morto por vampiros antes de conhecer Marceline.



Marceline do mundo dominado por vampiros. Ela ficou conhecida pelo apelido de "A Estrela". Na mini série Stakes nós descobrimos que todos os vampiros importantes possuem um apelido referente a uma carta do Tarot.


   No episódio Winter King, somos apresentados a uma realidade onde em algum momento de lucidez, o Rei Gelado conseguiu permanecer com os poderes da coroa enquanto ficava são, o que parecia ser o cenário ideal. Naquele universo, a Rainha dos Doces quem era “louca” e vivia sequestrando nosso charmoso Rei do Inverno. Simon questiona sua outra versão que diz que conseguiu chegar onde estava com mera força de vontade há 100 anos. Isso o faz se sentir incapaz. No entanto, o que parecia ser um brilho de esperança para nosso trio em relação a coroa, se tornou uma semente de desespero. Após sem querer tocar na coroa do Rei do inverno, Fionna acabou com toda a sua magia o fazendo envelhecer até morrer e virar pó. Quando isso ocorre, o reino de gelo começa a se desfazer e a Rainha dos Doces se revela ser a Princesa Jujuba. O Rei do Inverno nunca conseguiu dominar a coroa, ele apenas transferiu a loucura dela para a princesa, que ficou assim por 100 anos. Com ele morto, a maldição se desfez.

Rei do Inverno e Simon após serem sequestrados pela Rainha Doce e descobrirem que seria colocados em uma batedeira gigante.
"— Isso na verdade foi uma boa metáfora." 
"— Não é uma metáfora."


   Fionna, ao ver todas essas situações, percebe que não quer aquilo para o Simon e que nem tudo que ela achava maneiro era tão legal assim. Mesmo assim, o homem está disposto a fazer o que for preciso. Nos episódios finais, Simon chega até a GolBetty. Vemos o icônico vilão Lich se queixar sobre seu propósito. Em seu universo, ele aniquilou toda a vida. Porém, isso não lhe trouxe nenhuma satisfação. Golbetty o mata e coloca Simon no corpo de uma encarnação futura de Finn. Lá, após encontrar um livro, ele começa a entender que Betty sempre fez tudo por ele, mas o mesmo não podia ser dito dele. Suas vontades sempre foram priorizadas, mas ele nunca priorizou as dela. Ao querer colocar a coroa novamente, Simon estaria desrespeitando a escolha e sacrifício de Betty. Ele começa a se questionar o que teria acontecido se tivesse feito escolhas melhores e percebe que isso não tem mais relevância. Golbetty se despede de Simon em uma cena emocionante e diz que ele foi uma experiencia maravilhosa. Tendo transcendido para além da compreensão mortal, é entendível todas aquelas lembranças terem virado apenas experiências na vastidão do espaço-tempo.

Simon se despede de Betty para sempre. Para seguir em frente, é preciso aceitar o passado.




Amar também é respeitar as escolhas um do outro. Betty pagou um preço alto pela cura de Petrikov. Desfazer isso é fazer todo o seu esforço ter sido em vão. 


   Com a ajuda de Prismo, que consegue se libertar após ter sido preso pelo Escaravelho (por ter criado um universo sem autorização), Fionna e Cake conseguem deter o vilão que as perseguia e que queria apaga-las da existência e graças a Golbetty, Simon consegue um jeito de fazer o universo das garotas se transformar em um “universo autorizado”, sem precisar da coroa. Com isso temos um dos raros momentos onde Hora de Aventura encerrou algo de forma otimista. O Escaravelho é punido e o universo de Fionna e Cake continua a existir, permanecendo normal na maior parte, com apenas algumas mudanças aqui e ali apenas (Cake continuando sendo mágica, o filho de Finn de Farmworld vindo para esse universo com o Baby Finn e algumas criaturas pegas pelo Escaravelho que decidiram ficar por lá). Em Ooo, Simon voltou para sua vida tradicional, mas continuando a se comunicar com Fionna pelo celular, fazendo uma nova amiga. Ele parece mais feliz, aceitando as coisas do jeito que elas são agora.


                                                  Simon mandando mensagens para Fionna.



Tudo permaneceu, mas ainda mudou, bem levemente.


   Mesmo que o título da série remete a Fionna e Cake, é fato que a verdade é que a série é sobre Simon Petrikov. O final poderia ter explorado outras possibilidades para seu desfecho e fugido um pouco mais do clichê e talvez ter dado alguns vislumbres do que ocorreu nos outros universos nos quais eles acabaram interferindo. Porém, acredito que ele conseguiu cumprir sua proposta. Aliás, é bom deixar algumas coisas para nossa própria imaginação... Vimos que ainda havia muito o que explorar do universo de Ooo e é uma pena que essa nova aventura tenha sido tão curta. Apesar de efêmera, foi uma ótima aventura e um presente para nós, fãs antigos, que cresceram com a animação.

 

Nota final: 8/10

Menções honrosas a construção do relacionamento do Marshall e do Gary e com os paralelos entre suas versões oficiais.

Marshall e Gary tendo um encontro fofo.



Enquanto isso, Marceline e Jujuba se moendo na porrada em outro universo.




Voltei das cinzas porque essa mini série desbloqueou uma memória afetiva muito grande em mim e descobri que ainda  tinha acesso a esse blog. Talvez ninguém irá ler e está tudo bem. Os anos nesse blog foram bons tempos. Entretanto, é preciso aceitar mudanças. Esse tempo se foi e apenas o que restou é a saudade. Isso é a vida. Memórias vem e vão, nós crescemos e assumimos responsabilidades. Devemos lembrar com carinho das coisas boas, mas não devemos deixar a saudade nos puxar para trás. 





Um comentário: